quinta-feira, 15 de julho de 2010

Balanço


A Unidade de MEDIA DIGITAIS E SOCIALIZ@ÇÃO do Mestrado de Comunicação Educacional Multimédia da Universidade Aberta foi, ao longo do semestre que agora finda, um espaço privilegiado de aprendizagem e interacção, do qual gostava de salientar os seguintes aspectos:


  • Os temas seleccionados caracterizam-se pela relevância, interesse e actualidade
  • Os recursos bibliográficos disponibilizados cobriram efectivamente os temas propostos.
  • A calendarização foi extremamente adequada.
  • A evolução, de uma forma harmoniosa, de uma componente teórica para outra mais prática, que se concretizou a partir do momento em que se passou à fase das entrevistas e do seu tratamento.

Posso então qualificar o meu percurso formativo como extremamente enriquecedor, de diferentes pontos de vista: se por um lado a quantidade de informação e conhecimento que esta unidade trouxe foi bastante significativa, por outro lado ela sensibilizou e conduziu a uma nova postura na observação e entendimento das profundas transformações que a cultura digital está a trazer à nossa sociedade.

Não queria terminar sem deixar uma palavra de apreço à condução dos trabalhos pela parte da Professora Maria João Silva e pela prestação dos colegas, muito em especial daqueles com quem trabalhei em grupo: Áurea Conde, Luísa Esmeralda Santos e Nuno Lopes. Ficam para todos os meus votos de felicidade e sucesso pessoal e profissional.


Alcino Viana, Julho de 2010




Percurso(s)

Deixei, no post de 29 de Junho p.p.,  uma breve descrição das minhas actividades na Unidade Curricular de Médias Digitais e Socialização.do Mestrado em Comunicação Educacional Multimédia da Universidade Aberta, da responsabilidade da Professor Maria João Silva.

Quero aproveitar agora para explanar mais detalhadamente a incidência de cada uma das áreas no meu percurso formativo nesta unidade curricular.

Actividdade 1
NATIVOS DIGITAIS VS IMIGRANTES DIGITAIS Perfil do Estudante Digital

Os textos de Marc Prensky tem o seu quê de inovador e ao mesmo tempo de provocante. No entanto há outras achegas qe convém ter em linha de conta. Esta divisão nativo/imigrante digital é fruto de um contexto sócio-histórico muito específico e ocorre planetariamente a velocidades desiguais. Castells (2002) aduz algumas pistas interessantes para o enquadramento deste fenómeno. De acordo com este autor o acesso aos media digitais apresentam algumas carateristicas que fazem com que esta distinção tenha que ser aprofundada:

Primeira: diferenciação social e cultural que leva à segmentação dos utilizadores/espectadores/leitores/ouvintes […]. Como dizem alguns especialistas, no novo sistema “horário nobre é o meu horário”. A formação de comunidades virtuais é apenas uma das expressões dessa diferenciação.
Segunda: crescente estratificação social entre os utilizadores. […]. A informação sobre o que procurar e o conhecimento sobre como usar a mensagem serão essenciais para se conhecer verdadeiramente um sistema diferente dos mass media tradicionais. Assim, o mundo do multimédia será habitado por duas populações essencialmente distintas: a interactiva e a receptora da informação. […].

Terceira: a comunicação de todos os tipos de mensagens no mesmo sistema, ainda que este seja interactivo e selectivo (sem dúvida exactamente por isso), induz a uma integração de todas as mensagens num padrão cognitivo comum.
Esta perspectiva de diferenciação, estratificação e em simultâneo integração num padrão cognitivo comum tem o seu quê de inquietante, na medida em que pressupõe a existência de indivíduos que, mesmo sendo nativos na cultura digital, permanecerão vítimas de mecanismos de estratificação derivados fundamentalmente de deficits na literacia formal. A análise deste autor continua na mesma direcção:
A entrada da maioria das expressões culturais no sistema de comunicação integrado, baseado na produção, distribuição e intercâmbio de sinais electrónicos digitalizados, tem consequências importantes para as formas e processos sociais. Por um lado enfraquece de maneira considerável o poder simbólico dos emissores tradicionais fora do sistema, transmitindo por meio de hábitos sociais historicamente codificados: religião, moralidade, autoridade, valores tradicionais, ideologia política. Não que desapareçam, mas são enfraquecidos a menos que se recodifiquem no novo sistema, onde o seu poder é multiplicado pela materialização electrónica dos hábitos transmitidos espiritualmente: as redes de pregadores electrónicos e as redes fundamentalistas interactivas representam uma forma mais eficiente e penetrante de doutrina nas nossas sociedades do que a transmissão, por contacto directo, da distante autoridade carismática. No entanto,temos que admitir a coexistência terrena de mensagens transcendentais com a oferta de pornografia, novelas e grupos de conversação, dentro do mesmo sistema, os poderes espirituais superiores ainda conquistam almas, mas perdem o status de supra-humanos. O estágio final da secularização da sociedade prossegue, mesmo que às vezes assuma a forma paradoxal de um visível consumo religioso, sob todos os tipos de nomes genéricos e de marcas. As sociedades ficam verdadeira e finalmente desencantadas porque todos os milagres estão on-line e podem ser combinados em mundos de imagens autoconstruídas.
Por outro lado, o novo sistema de comunicação transforma radicalmente o espaço e o tempo, as dimensões fundamentais da vida humana. As localidades são despojadas do seu sentido cultural, histórico e geográfico e reintegram-se em redes funcionais ou então conjuntos de imagens, ocasionando um espaço de fluxos que substitui o espaço ele lugares. O tempo é apagado no novo sistema de comunicação já que passado, presente e futuro, podem ser programados para interagir entre si, na mesma mensagem. O espaço de fluxos e o tempo atemporal são as bases fundadoras de uma nova cultura, que transcende e inclui a diversidade dos sistemas de representação historicamente transmitidos: a cultura da virtualidade real, onde o faz-de-conta se vai tornando realidade.

Dados como os de um estudo sobre ritmos de leitura de leitores especializados, oriundos do mundo académico de  Hillesund (2010), parecem demonstrar que o hipertexto e o multimédia, para além de vantagens evidentes no acesso a determinados tipos de informação, não se prestam bem à leitura linear, “em profundidade”.


Actividade 2
IDENTIDADE SOCIAL NA ADOLESCÊNCIA, Discussão do Processo de Construção da Identidade na Adolescência

A problemática da identidade social na adolescência foi abordada a fundo, em grande medida sob a égide do pensador Erik Erikson, especialmente na vertente da sua construção, o conceito de crise, a relação com os pares, sentimentos...

No decurso do debate outras questões emergiram: privacidade, relações com os média, uso(s) da língua - SMS, abreviaturas, netspeaking, emoticons, chat.

No livro que citei no post de 18 de Abril de 2010, O Espião na Máquina de Café, os autores O’Hara, k. e Shadbolt, N., (2009) defendem a ideia de que o espaço privado do século XX terá de evoluir e que se valorizamos verdadeiramente a nossa privacidade teremos de desempenhar um papel muito mais activo em mantê-lo. As tecnologias que ameaçam também podem ser utilizadas para proteger e a consciencialização é um factor importante na implementação vantajosa das mesmas.

Dizem ainda os autores acerca dos sites sociais:

Todos os tipos de problemas relacionados com privacidade e segurança também são levantados pelos sites de redes sociais, como o MySpace, com os seus 100 milhões de utilizadores, o Friendster, que tem cerca de trinta milhões, o Classmates Online, com quarenta milhões e outros.  De um ponto de vista técnico, são uma extensão muito simples da metáfora de hoje da web. O desafio interessante é o de saber que todos estes pedaços de auto publicação e referências a outros indivíduos significam no seu todo. As pessoas que muitas vezes usam os seus verdadeiros nomes, publicam todo o tipo de informação sobre elas em sites sociais. Muitos deles são inofensivos, mas isto pode incluir detalhes de amigos, actividades, blogues que se lêem e por aí. A orientação sexual e crenças políticas e religiosas também estão muitas vezes presentes. Os jovens, em particular, cujo sentido de risco é de alguma forma mais pequeno e cujas vidas são de certa forma mais direccionadas para a farra do que as dos pais, podem acabar por dar demasiada informação. Algumas pessoas perderam o emprego ou lugares na escola depois de descreverem bebedeiras, consumo de drogas, ou experiências homossexuais.


Aproveitei para chamar a atenção dos colegas para Urie Bronfenbrenner (1917-2006), um autor que em sido de algum modo “redescoberto” nos últimos anos. Bronfenbrenner enfatiza a ideia de que o desenvolvimento humano tem que ser entendido dentro de um modelo ecológico capaz de integrar os diferentes contextos em que se processa. As profundas alterações nos conceitos de tempo e espaço que a cultura digital vém introduzindo na vida quotidiana, justificam a meu ver uma releitura deste autor.

Actividade 3
MEDIA DIGITAIS E CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE SOCIAL, Actividades Sociais e Desenvolvimento da Identidade nos Jovens

A síntese de um texto de Danah Boyd: Why Youth ♥ Social Network Sites: The Role of Networked Publics in Teenage Social Life, permitiu contactar com algumas ideias interessantes da autora sobre a relação entre os jovens e as redes sociais:

Os meios de comunicação online criaram um novo recanto para a juventude: a grande novidade da internet foi a possibilidade de os jovens participarem em públicos não regulados dentro de espaços físicos regulados por adultos (casa, escola...). Os pais tentam regular o comportamento dos jovens e estes tentam ocultar-se. Nas redes sociais, os jovens mostram como são, assumem riscos que os ajudarão a avaliar as fronteiras do mundo social, buscam no fundo acesso à sociedade adulta.

Dana Boyd organiza a sua pesquisa a partir dos sites sociais que oferecem a possibilidade da partilha de música (a música é, de acordo com esta autora, a cola cultural dos jovens). Onde a autora só vê vantagens, outros autores, como por exemplo Andrew Keen tem uma posição mais crítica. No seu livro “O Culto do Amadorismo”, com o sugestivo subtítulo “Como a Internet actual está a matar a nossa cultura e a assaltar a nossa economia”, publicado entre nós em 2008, Keen analisa o impacto que os média digitais tem na criação e distribuição cultural, nas suas declinações literárias e musicais:

Kevin Kelly, um utópico do Silicon Valley, pretende dar cabo do livro completamente – assim como dos direitos de propriedade intelectual de escritores e editoras. Com efeito, pretende reformular a própria definição de livro, digitalizando todos os livros num único hipertexto grátis, universal e em código aberto – como uma enorme Wlkípedía literária. Num «manifesto» publicado na edição de Maio de 2006 do New York Times, Kelly chama a isto a «Versão Líquida» do livro, uma biblio­teca universal em que ,cada livro é alvo de ligações cruzadas, aglome­rados, citações, excertos, indexações, análises, anotações, remisturas, remontagens, e em que o livro é entretecido ainda mais fundo na cultura do que nunca antes. Mais, a Kelly pouco importa que o colaborador desta utopia hipertextual seja Dostoievski ou um dos sete anões.
«Uma vez digitalizados» diz-nos Kelly, «os livros podem ser des­fiados em páginas únicas, ou ainda mais reduzidos, em fragmentos de página. Estes fragmentos serão alvo de remisturas e aglomerados em livros reordenados e estantes virtuais». É o equivalente digital a arran­car as páginas de todos os livros do mundo, rasgá-los linha a linha, e colá-los em infinitas combinações. Na opinião dele, tal resulta numa «rede de nomes e uma comunidade de ideias» . Na minha, prenuncia a morte da cultura.
[...]
A visão 2.0 de Kelly poderá ser o derradeiro terminal do nobre amador. Na sua versão do futuro, pode distribuir-se gratuitamente em linha a escrita individual. Os escritores deixam de receber direitos de autor pelo seu trabalho criativo, e terão de depender de discursos e de vender suplementos para ganhar a vida.
Resultado: escritores amadores e conteúdos amadores – tudo Drudge e nada de Dostoievski. Sem um modelo negocial de publica­ção viável, a biblioteca universal de Kelly degenera numa edição de autor universal – uma confusão hipertextual de lixo que não foi con­trolado e que é penoso de ler. As livrarias e as editoras desaparecem. Só nos restarão para ler as nossas próprias versões das nossas próprias histórias.
No negócio da música, há estrelas rock, como por exemplo Beck, que cantam a mesma cantiga que Kevin Kelly. Tal como Kelly e Jimmy Wales e os outros utópicos da Web 2.0, Beck embarcou na ideia da nobreza sedutora do amador. A grandiosa ideia de Beck con­siste em deixar os fãs criarem versões personalizadas da sua música  — deixando-os desenhar capas, escrever letras, criar misturas electróni­cas. Beck pretende substituir prontamente os artistas, compositores e engenheiros de som que trabalham para ele pelo entusiasta amador, disse-o à revista Wired:
Adorava lançar um álbum que se pudesse montar e misturar directamente no iTunes. Fizemos o projecto de uma remistura num sítio Web há uns anos, em que pusemos as faixas de uma canção e deixámos as pessoas fazerem as suas versões. Havia qualquer coisa de realmente inspirados na variedade e quali­dade da música com que contribuíram. Num mundo ideal, eu acharia maneira de deixar as pessoas interagirem verdadeira­mente com os discos que vou lançando – não somente remis­turar canções, mas também reproduzi-Ias como um jogo de vídeo."




Actividade 4
UTILIZAÇÃO SOCIAL DOS MEDIA DIGITAIS: A PERSPECTIVA DOS JOVENS, Entrevista a Jovens sobre a Utilização Social dos Media Digitais

A entrevista foi um momento muito interessante de trabalho de campo e permitiu o contacto com adolescentes ligados em maior ou menor grau a redes sociais. A construção do guião permitiu um nível elevado de interacção dentro do grupo e depois entre os diferentes grupos. No meu caso, apliquei-a a um jovem de 17 anos, guitarrista já profundamente envolvido nas áreas da composição de originais e de actuações ao vivo: usei um pequeno field recorder M-Audio MicroTrack II, transcrevi e disponibilizei o texto no forum criado para o efeito. O tratamento dos dados recolhidos dentro do grupo e algumas extrapolações (as possíveis dentro das circunstâncias decorrentes de uma amostra reduzida), foram disponibilizados aos colegas no prazo previsto.

A discussão assíncrona que se seguiu foi particularmente animada. para me situar na discussão deste tópico, retomei um texto de Ernest Greenwood, que é já um clássico na investigação em ciências sociais. A partir da distinção entre a metodologia experimental, de medida e de estudo de casos, Greenwood analisa cada uma das modalidades e conclui pela vantagem de aplicar, sempre que possível, mais que um método a cada situação:

Torna-se óbvio que a maneira como os defeitos e qualidades dos três métodos se encontram distribuídos é tal que cada um possui precisamente o que falha aos outros dois. Os três métodos deveriam considerar-se, assim, não como competitivos,mas como complementares; ou seja: deverão ser utilizados, quer sucessiva, quer simultaneamente.
[...]
Presentemente, impõe-se efectuar mais investigações que utilizem dois ou mais métodos ide investigação, suficientemente documentados para permitirem uma análise metodológica subsequente.


Bibliografia

Castells, M., (2002), A sociedade em rede, Fundação Calouste Gulbenkian, Lx

Greenwood, E.,(s/d) Tradução do artigo Los Métodos de Investigación Empíricaen Sociologia, publicado na Revista Mexicana de Sociologia, vol. XXV,nº 2, de Maio-Agosto 1963, pp. 541-574.Tradução de Maria de Fátima Sedas Nunes. Recuperado em 10 de Julho de 2010 de  http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1224164262K2lAE9wd1Ui39AM8.pdf

Keen, A., (2008), O Culto do Amadorismo, Ed.Guerra e Paz, Lx

Hillesund, T., (2010), Digital reading spaces: How expert readers handle books, the Web and electronic paper, in First Monday, Volume 15, Number 4 - 5 April 2010 recuperado em 10 de Julho de 2010 de  http://firstmonday.org/htbin/cgiwrap/bin/ojs/index.php/fm/article/viewArticle/2762/2504

O’Hara, k. e Shadbolt, N., (2009), O Espião na Máquina de Café, Plátano Editora, Lx.

domingo, 11 de julho de 2010

O outro lado...







A cidadã britânica de raízes cingalesas Mathangi "Maya" Arulpragasam, mais conhecida como MIA ou M.I.A. tem várias facetas interessantes: é cantora, produtora musical, criadora de moda, além de manifestar uma intervenção política digna de nota. Depois de se assumir como uma defensora do terceiro mundo, da liberdade de expressão e do fim da violência presente nos videojogos, MIA surpreendeu muito boa gente quando anunciou a sua convicção de que plataformas como o Facebook ou o Google são controladas pela C.I.A:

Everyone on the Internet is like, “Oh my God, come and join Facebook!” They’re all so optimistic… and really, everyone is fucking you up behind the screens. And I don’t like that.  It makes it difficult for me to interact with my fans knowing that.  Google and Facebook were developed by the CIA, and when you’re on there, you have to know that.”

Até ao momento os visados não responderam.

Que motivações terá a artista?


Convicções? Conhecimento exacto e profundo das suspeitas que lança?  Quinze minutos suplementares de fama? Muitas hipóteses e, pelo menos para já, poucas respostas...

Há realmente um outro lado nos média digitais e está aí para durar: fenómenos incontornáveis como o roubo de identidade, a obtenção fraudulenta de dados pessoais, a falsificação de sites institucionais (actividades que cabem na designação de phishing), a engenharia social nas suas diversas declinações, o boato, a contrafacção, são fenómenos com os quais vamos ter que nos habituar a conviver. Infelizmente, a generalidade das instituições que supostamente deveriam trabalhar em prol da segurança na rede parecem mais apostadas na difusão de uma cultura de evitamento que na formação de uma literacia digital critica e activa.

Esta teia de ocorrências é de tal modo nova, que surgem até questões - legítimas, sem dúvida - para as quais o uso social não forneceu ainda respostas satisfatórias: que fazer, por exemplo, das contas de correio e das redes sociais de uma pessoa que faleceu?



quarta-feira, 7 de julho de 2010

Internet: 60% das crianças já teve experiências negativas

Um artigo de Diário Digital de 24 de Junho de 2010:

Mais de seis em cada 10 crianças já tiveram experiências online negativas, que passam por situações variadas como exposição a nudez ou tentativas de estranhos para as conhecerem na vida real, avança um estudo hoje lançado em Portugal.
De acordo com a análise – designada como "Norton Online Family Report" - uma em cada 10 crianças já foi alvo de tentativas de estranhos para as conhecer na vida real, enquanto que uma em cada quatro já viu imagens de violência ou nudez na Internet.

No entanto, menos de metade dos pais tem conhecimento destas experiências negativas dos filhos.

O relatório, realizado com base num inquérito feito em fevereiro deste ano em 14 países de todo o mundo, concluiu que a maior parte das experiências negativas tem como base tentativas de estranhos de os recrutarem como “amigos” nas redes sociais (41 por cento) ou com a contaminação dos computadores com vírus captados em 'downloads' (33 por cento).

Essas experiências negativas têm um "profundo impacto emocional" nos mais jovens, sendo que um quinto das crianças sente-se embaraçado e arrependido. Mesmo quando não têm responsabilidade direta.

“Achei muito interessante saber o que os jovens sentem quando questionados sobre as suas experiências negativas”, admitiu à agência Lusa o fundador do projeto MiudosSegurosNa.Net, Tito de Morais, presente na apresentação deste relatório.

“Muitos jovens têm sentimentos de culpa em relação a situações de que, muitas vezes, nem são responsáveis. E isso alerta-nos para a necessidade de, como pais, partilharmos essa responsabilidade”, sublinhou.

Para este responsável, essa prevenção “é um trabalho de toda a sociedade”, mas deve começar a ser feita pelos pais.

“Podemos fazer parte das redes de que os nossos filhos fazem parte”, o que permite detetar algumas situações, defendeu.

“Muitas vezes há sinais simples: a frase que ele deixou como pensamento do dia ou a frase que escreveu como mensagem de status no Messenger”, adiantou, lembrando que isso torna ainda possível “ver quem faz parte da rede deles [e] quem são os ‘amigos’”.

Também o responsável da empresa que divulgou o estudo da Norton, a Symantec, defende que o mais importante é deter o mais possível de informação.

E deu um exemplo: "Imagine que o seu filho está a entrar numa página com o subtítulo ‘conteúdo de sexo’. Pode tratar-se de um grupo de música ou uma canção, mas se ler esta mensagem sem conhecer o que está por trás é capaz de ter uma zanga com o seu filhos e isso vai afastar-vos”.

Atualmente, avançou, “existe um grande distanciamento entre a família - os pais - e as crianças”, sendo que “os pais pensam que as crianças usam a Internet para coisas diferentes do que usam".

Por isso, Salvador Tapia Rodriguez defende que não vale a pena bloquear o acesso dos filhos à Internet.

O que é preciso é que “os pais tenham conhecimento de quanto tempo é que os filhos estão na Internet, se têm uma ou 10 contas no Facebook”.

Realizado em fevereiro deste ano, este estudo do Norton foi o maior de sempre, tendo sido questionadas mais de 2800 crianças e 7000 adultos em todos os continentes, mas não incluiu Portugal.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Palavra do ano 2009



Os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo.
Ludwig Wittgenstein

O mundo era tão recente que muitas coisas careciam de nome
Gabriel Garcia Marquez



O New Oxford American Dictionary, dicionário de inglês norte-americano com mais de 250.000 definições e entradas, editado pela Oxford University Press foi, em finais do ano passado, amplamente referido pelos meios de comunicação de todo o mundo, quando os seus responsáveis definiram unfriend como a palavra do ano de 2009.


Os termos do anúncio, no blogue da divisão americana da editora:

Birds are singing, the sun is shining and I am joyful first thing in the morning without caffeine. Why you ask? Because it is Word of the Year time (or WOTY as we refer to it around the office).  Every year the New Oxford American Dictionary prepares for the holidays by making its biggest announcement of the year.  This announcement is usually applauded by some and derided by others and the ongoing conversation it sparks is always a lot of fun, so I encourage you to let us know what you think in the comments.
Without further ado, the 2009 Word of the Year is: unfriend.
unfriend – verb – To remove someone as a ‘friend’ on a social networking site such as Facebook.
As in, “I decided to unfriend my roommate on Facebook after we had a fight.”
“It has both currency and potential longevity,” notes Christine Lindberg, Senior Lexicographer for Oxford’s US dictionary program. “In the online social networking context, its meaning is understood, so its adoption as a modern verb form makes this an interesting choice for Word of the Year. […] Unfriend has real lex-appeal.”

Aqui está, mais uma vez, o emergir de novos comportamentos e atitudes tão recentes que ainda não há sequer linguagem adequada: estes termos vão sendo criados por um público anónimo que não se limita a ser um auditório passivo mas, pelo contrário, participa e constrói. É a capacidade de incorporar o mundo que determina, em grande medida, a vitalidade de uma língua. O inglês presta-se admiravelmente à criação de neologismos e esta constatação não deixa de ser um factor de preocupação para quem está ligado à educação e, em particular, aos seus domínios tecnológicos






domingo, 4 de julho de 2010

Add as a friend (Análise de uma campanha publicitária em curso)


O pensador francês Roland Barthes criou, numa comunicação de 1964 intitulada  Rhétorique de l'image, a ideia de que a imagem publicitária comporta diferentes níveis: nela podemos ver um sentido literal, directo, a que chamamos denotação e um outro sentido, figurado, a que chamamos conotação. Na análise bartheana, este nível de linguagem funciona no domínio do simbólico e a criação de sentido implica uma partilha de códigos culturais específicos entre o emissor e o receptor: fora de um determinado código cultural a mensagem não produz significado. A linearidade e temporalidade da linguagem coloquial são substituídas por ligações propostas no espaço em que a imagem se inscreve.
O construtor de automóveis Mitsubishi está a promover uma campanha no mínimo curiosa: associa um dos modelos da sua actual oferta ao sentimento de pertença a uma rede social e transforma este laço num argumento publicitário. Esta campanha da Mitsubishi, com presença televisiva, em outdoors e na Internet desenvolve-se sobre a ideia de que um automóvel pode ser um amigo, como qualquer outro dos que podem existir numa rede social. Na primeira das imagens extraídas do site português do construtor, o texto resume-se ao nome do fabricante e do modelo, acompanhado pela representação icónica do botão de aceitação de um novo amigo, neste caso inspirado directamente na versão anglo-saxónica do site social Facebook. É de notar que o tamanho do botão ocupa praticamente tanto espaço horizontal como a viatura. Qual é o púbico-alvo desta imagem? Muito provavelmente estamos a falar de uma faixa jovem, com um poder de compra relativamente elevado, alguma formação académica e uma ligação forte à cultura digital. Não sei se será demasiado abusivo dizer que este target está mais próximo dos nativos digitais que dos chamados imigrantes. O sentido denotativo estabelece-se assim entre o acto de adicionar um novo amigo à rede, com todas as implicações sociais que daí decorrem e o de adquirir um veículo automóvel.  


Na segunda imagem há duas novidades: o aparecimento de texto em português — “Um amigo para a vida”, que reforça a dimensão do acto de aceitação de uma nova relação e a diminuição do tamanho da imagem do botão, comparativamente com o tamanho do veículo. O texto em português respira no cabeçalho da imagem.


Uma outra imagem, aparecida  mais recentemente, retoma o essencial da primeira, mudando o texto do botão — “like this”. A construção simbólica que se destaca já não é a do acto de aceitação do novo amigo, mas sim a satisfação que ele fornece. Esta sequência de imagens conta pois uma história em que os ingredientes provém de um estilo de vida digital.

Os média digitais chegaram à maioridade. Este target publicitário é provavelmente o mesmo a quem há 12 ou 15 anos eram vendidas as primeiras Playstation, Nintendo 64, Gameboy ou Sony Walkman.