Quando iniciei a unidade de MDS, confrontado com os conceitos de nativo digital // imigrante ddigital de Marc Prensky, lembrei-me de uma crónica publicada há bastante tempo no jornal Público, por volta talvez dos finais do século passado.
Nela o pensador Fernando Ilharco introduziu uma distinção interessante, entre tecnologias inclusivas, que podiam facilmente ser recebidas e operacionalizadas pela generalidade das pessoas e as tecnologias exclusivas, que, como o nome indica, excluíam muitos dos seus potenciais utilizadores ou tornavam-se apanágio apenas de um determinado grupo: o telemóvel ou o serviço de multibanco podiam ser consideradas tecnologias inclusivas, na medida em que o seu uso se generalizou na sociedade. Comparativamente, computadores baseados em texto e não em interfaces gráficas, como os sistemas baseados em MS-DOS ou em Linux dos primórdios teriam desde logo o seu quê de exclusivo, em função do seu carácter algo hermético e da curva de aprendizagem necessariamente longa e laboriosa. Tentei encontrar ecos da crónica online e, infelizmente, nada consegui até ao momento.
Lembrei-me desta crónica em particular porque sinto que há uma articulação forte entre estas duas dicotomias. Penso poder afirmar que:
1. os nativos digitais são em grande medida os utentes de tecnologias exclusivas,
2. uma tecnologia exclusiva à partida pode tornar-se cada vez mais inclusiva à medida que o seu uso se dissemina e as suas vantagens vão surgindo como evidentes:
uma sequência como a dos BBS (Bulletin Board Systems) Talkers - IRC - ICQ, Skype, Messenger... pode ser lida à luz da sua complexidade decrescente e das dificuldades relativas do seu uso. Se normalmente um nativo digital se sentirá confortável num sistema BBS, um imigrante digital sentir-se-à provavelmente mais à vontade no skype ou no Messenger e,
3. A distinção entre nativos e imigrantes digitais diminui à medida que o carácter inclusivo de uma tecnologia aumenta.
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